Boutique CFC: São Paulo ganha uma excelente doceria

ESTABELECIMENTO FECHADO

O campeão de vendas: Tarte au Gianduia: massa de cacau e amêndoas, gianduia cremoso com nibs de cacau (R$ 18)

A doçaria que me encanta é aquela que usa açúcar comedidamente e não soterra os sabores sob ele – e, no melhor dos mundos, usa ingredientes locais e sazonais, refletindo a cultura local. Não só não suporto, como penso ser odioso fazer doces baseados em produtos altamente industrializados como biscoitos e chocolates cheios de gordura hidrogenada, cremes e pastas atoladas de conservantes, corantes, espessantes e vários tipos de açúcar. Tipo de atalho de efeito “viciante” escolhido por profissionais medíocres.

Tarte Citron Basilic (Torta de limão com massa de amêndoas e baunilha, creme de limão aromatizado com manjericão e suspiros, R$ 15) da Boutique CFC, em São Paulo

Talento na confeitaria não é pegar tranqueira na prateleira do supermercado e misturar, “criando” algo hipercalórico e que dá likes no Instagram –  prática, infelizmente, cada vez mais comum. Doceiros talentosos tem leveza, equilíbrio, técnica. Esse é o caso de Caio Corrêa, que acaba de inaugurar sua Boutique CFC.

Interior da nova Boutique CFC, nos Jardins

Pós-Graduado pela Ealing Hammersmith and West London College, em Londres, Caio possuía um pequeno espaço dentro do restaurante de seu pai, em Perdizes. A mistura de confeitaria refinada e salão rústico de uma casa especializada em peixes não funcionava nada bem. Finalmente Caio alugou um pequeno imóvel no Jardins, no qual serve cerca de sete variedades de doces, diariamente, além de macarons e cafés.

O sensacional Le Carré, da Boutique CFC: base de macaron com mousse de chocolate 53% e cremoso de chocolate com folhas de chocolate alternando-se em 10 camadas (R$ 23)

Ali não se encontra toneladas de marshmallow, bolos de churros ou tortas entupidas de doce de leite e nutella. Ao contrário, o que se encontra ali é delicadeza refletida em receitas, com queda para os clássicos, sempre muito bem executadas.

Os preços dos doces individuais variam entre R$ 15 e R$ 23. Se vale? Sim, vale pagar a experiência, os bons insumos e o ótimo resultado do trabalho sério de um profissional. E, no mais, é bem fácil encontrar por aí lixo açucarado com valores bem próximos a esses…

Voile: camadas de macaron de pistache, feuilletine de pistache e creme de pistache, R$ 23)

Não saia de lá sem provar a campeão de vendas, a Tarte au Gianduia (R$ 15). Crocante massa de cacau e amêndoas serve de base para cremoso gianduia (pasta de chocolate com avelã) finalizado com nibs de cacau.

Para aqueles enlouquecidos por chocolate, o Le Carré injeta felicidade instantânea bem no meio do cérebro: base de macaron de chocolate e 10 camadas de chocolate alternadas entre mousse de chocolate 53% e cremoso de chocolate com folhas de chocolate (R$ 23). Dulçor lindamente equilibrado, sedoso. Uma verdadeira delícia.

Macarons da Boutique CFC

A acidez delicada da Tarte Citron Basilic (R$15) é algo raro de se encontrar. Geralmente as tortas de limão levam quantidades colossais de leite condensado, dando até dor na garganta de tão doces e enjoativas. Esta, não. A fina massa de amêndoas e baunilha “carrega” aveludado creme de limão aromatizado com manjericão, coberto por pequenos suspiros. Primor. 

Caso não esteja numas de encarar um doce inteiro, peça um macaron (R$ 5, cada) de framboesa, de maracujá, gianduia, entre outros. Para acompanhar, café Nespresso  – que não faz jus aos doces.